POR REBECA
BEDONE
Um dia a porta da sua alma se fechou.
Sua música parou de tocar. Você olhava pela janela enquanto o amor te deixava.
Pode ir, você disse, e jurou que nunca mais sentiria essa dor. Espalhado
pela casa com os cacos do seu coração, a última coisa que você queria
era amar outra vez.
Rejuntar estilhaços até se fortalecer
de novo é um processo que leva tempo, e a duração desse tempo é muito pessoal,
assim como o tamanho da dor que cada um carrega. É como se você ainda
vivesse, seus órgãos e sistemas do corpo funcionam você respira,
mas falta algo. Falta vida no robô que rejunta as suas peças.
Foi assim, com muito esforço
e angústias, que você tropeçou em seus próprios pés para reaprender a
andar. Iluminou seus passos com seu
brilho esmorecido. Mas você nunca parou, nunca desistiu. Não
sabia o que ia encontrar lá na frente, somente sabia que era para lá que
tinha que ir. Nem sempre você achava aquilo que procurava. Algumas
vezes, acabou encontrando quem nunca imaginaria encontrar. Outras vezes,
você mesmo foi atrás de pessoas queridas que dormissem nas suas
lembranças. Por fim, você achou a sua imagem que se escondia atrás do
espelho.
No meio disso tudo é que
se descobre que fazer-se completo dá um trabalho danado. E por
mais que você saiba que esse seja um processo lento e interminável, e que
você esteja focado em procurar a felicidade na sua jornada e não em seu
destino, nestas horas de silêncio no seu quarto à noite acontece o imprevisto.
Nesse fluxo da vida que segue, entre as
dores e as curas, revisitando tristezas e alegrias, como um dia nublado, quando
menos se espera, ela chega. Toca a campainha da saudade, abre a porta da
ausência e te abraça apertado. Ela não foi convidada, mas mesmo assim a solidão
vem e fica por um tempo.
Ser feliz sozinho é fácil, difícil
é ficar triste na solidão. Especulando que o amor não é algo tão fácil assim de
ser encontrado, como se vê nos filmes e livros de romances, você se lembra de
Rubem Alves, “Temos uma capacidade quase infinita de suportar a dor, desde que
haja esperança”.
É nesse pressentimento que o peito ardido
encanta o silêncio, atravessa a madrugada fria e amanhece
na alegria. E encontra a esperança, com seus olhos de menina, equilibrando-se
entre o inferno e o céu, pulando amarelinha na poesia.